Post 08: Ciência

Para iniciar, gostaria de fazer um alerta.

Toda vez que escrevo algo para postar aqui, eu realmente me preocupo em não criar ansiedade e em trazer o tema de uma forma leve, sempre que possível.

A ideia não é que você chegue ao final de um post pensando que faz tudo errado, querendo mudar tudo ou dizendo que vai desistir. Por favor, não faça isso.

Em primeiro lugar, deve ficar claro que nenhum esforço é em vão. 

Cada segundo de esforço real estudando é válido e é muito melhor do que não fazer nada.

Isso é algo que você deve ter em mente sempre que estiver lendo alguma coisa em qualquer lugar sobre preparação.

Outro ponto que tem que ficar claro: eu não quero que ninguém mude nada em sua rotina de estudos. Eu só quero ajudar. E vou fazer o melhor que eu puder para isso.

Só você pode querer mudar alguma coisa. Só você pode querer melhorar.

E se, por acaso, você decidir que quer testar algumas coisas ou acrescentar alguns detalhes na sua preparação, sugiro que comece devagar e vá implementando pequenas melhorias pontuais, avaliando os efeitos, implementando mais algumas. 

Você já imaginou aprimorar algum aspecto da sua preparação, por menor que seja, a cada dia ou a cada semana?

Você decide, implementa, avalia e constata uma pequena melhoria. Em seguida, faz o mesmo em algum outro ponto. Os efeitos no longo prazo podem ser realmente impactantes.

Mas não é sobre isso que quero falar hoje. 

Quero falar sobre algo que muitas vezes me deixa perplexo. Algo que sempre me incomodou, mas que não sabia traduzir muito bem com palavras. Até que um dia me deparei, na abertura de um livro fantástico de Stanislas Dehaene (link abaixo), com uma frase que traduziu perfeitamente essa sensação. Uma frase brilhante de Jean Piaget:

Este é um fato estranho e surpreendente: conhecemos cada canto e recanto do corpo humano, catalogamos todos os animais do planeta, descrevemos e batizamos cada folha de grama, mas deixamos as técnicas psicológicas para o empirismo por séculos, como se fossem de menor importância do que as do médico, do criador ou do agricultor. (tradução livre)

Estranho e surpreendente. 

Vamos pensar um pouco.

Se você tem um problema de saúde, se tem algum órgão que não está funcionando bem, o que você faz? Em ultima instância, a que você recorre? (Estou perguntando em sentido material e não espiritual)

Se você é um atleta e quer competir contra os melhores de sua modalidade, o que você faz? A que você recorre para aprimorar sua preparação visando atingir todo o seu potencial?

Se existe uma crise sanitária mundial, a que você recorre para encontrar respostas, a que você recorre para encontrar uma cura?

A resposta é uma só: Você recorre à ciência. 

Ciência não é algo perfeito, porque não é algo acabado. Ela está em construção permanente.  Ela é falível. Mas todas essas perguntas envolvem conhecimentos complexos e, para encontrar a resposta mais segura, por mais simples que ela seja, a intuição costuma não ser suficiente. Precisamos nos apoiar nos ombros de gigantes, de muitas e muitas pessoas que dedicaram grande parte da vida delas (e não apenas cinco ou seis anos de estudo) a buscar respostas, a entender como o mundo e as pessoas funcionam.

E se você quer figurar entre os melhores em um concurso (ao menos o suficiente para estar entre os aprovados), se você quer aprimorar sua preparação, se quer chegar o mais próximo possível de atingir todo seu potencial, a que você recorre?

Recorro à minha intuição pura! 

Não recorro a nada, apenas sento e estudo, pois o importante é estudar e como isso é feito não tem importância nenhuma.

Recorro ao que o tio do meu vizinho falou, porque foi aprovado!

Ah! Outro dia vi um anúncio no Instagram…

Claro que ninguém vai responder isso (ou vai!?). Mas sinto que, apesar da ciência ser valorizada para quase tudo, para o aprendizado ela ainda é desprezada.

O corpo humano (e seu funcionamento) é algo fascinante e complexo. Cada célula, cada órgão, o conjunto completo em interação e harmonia. E o cérebro é ainda mais fascinante. Será que conhecer minimamente como ele funciona, como o aprendizado funciona, não é algo importante, ainda mais para quem passa grande parte do dia tentando compreender, aprender, memorizar, não esquecer e aplicar conhecimentos diversos?

Imagine um atleta de alguma modalidade esportiva com muitos praticantes, treinando para estar entre os melhores de um Estado ou do país. Você acha mesmo que ele vai conseguir esse feito sem  recorrer a conhecimentos científicos sobre o funcionamento do organismo, dos músculos, articulações, nutrição, recuperação, a fisiologia dos movimentos que ele precisa executar, estratégias de competição e aspectos emocionais? Eu acredito que não. Ele vai ter que treinar muito, sem dúvida. Mas o treino terá que ser eficiente.

Pense sobre isso um pouco. 

Será que na preparação para concursos não existe espaço para ciência? Ou o cérebro é tão simples que você já sabe tudo sobre ele e não tem o que melhorar?

Cabe a você responder.

Mas penso que o caso de quem se prepara para concursos não seja idêntico ao caso de quem se prepara para uma competição esportiva. Pelo menos por enquanto. Isso porque, dentre outros fatores, o emprego de conhecimentos científicos sobre aprendizado e preparação ainda não é tão difundido na preparação para provas. Não sei se um dia isso irá acontecer. Mas, e se acontecer? Você tem notado algo nesse sentido? O nível dos candidatos está aumentando, diminuindo ou se mantendo?

No esporte, é fato que todos já descobriram a importância da ciência. Então não adianta querer figurar entres os melhores desprezando tudo que foi descoberto por ela.

Nos concursos, acredito que muitos ainda são aprovados, depois de muito esforço, muitas tentativas e muitos erros, sem acesso a esse tipo de conhecimento. Na verdade, muitos acabam descobrindo na prática alguns dos fundamentos do aprendizado e da memorização e aplicam com rigor. E possuem muito, muito mérito por isso.

Mas será que não é possível melhorar, ser mais direto e eficiente? Muita gente tem aversão a qualquer técnica, estudo ou afirmação que contrarie o método que escolheu seguir. Em outros campos do conhecimento, pensam que é preciso estar aberto a novas descobertas científicas, pelo menos quando robustamente comprovadas. Mas, nos estudos, não. Nada serve. Só serve o que a pessoa quer.

Ok. Isso cada um decide.

Quero deixar claro que eu não disse, nem nunca vou dizer, para você abandonar nenhum método. Esse tipo de decisão só cabe a você tomar.

E você não precisa mudar nada. Não precisa seguir nenhum tipo de regra ou princípio se não quiser. A porta, se é que ela existe, só abre por dentro.

O que vou fazer é continuar postando algumas ideias e descobertas sobre estudo, preparação, aprendizagem e aspectos emocionais, trazendo temas que podem ser úteis para alguns nós. Quem sabe você não encontra, algum dia, alguma coisa útil por aqui?

Se possível, gostaria que você desse algum retorno. O que eu escrevi foi útil de alguma forma? Tem algo para corrigir ou acrescentar? Comente abaixo ou nas redes sociais. Se preferir, mande um e-mail.

No próximo post vou trazer um tema mais específico. 

Me desculpe se você já sabe da importância da ciência também para os estudos, mas eu precisava falar disso, porque todos os dias eu vejo pessoas defendendo a ciência para alguns campos do conhecimento e desprezando completamente na preparação para concursos. Não sei se por medo, insegurança ou arrogância. Quem sou eu para julgar? Mas é fato que esses estados emocionais prejudicam a aprendizagem.

Vou deixar algumas indicações de livros abaixo.

Infelizmente muitos deles ainda não possuem tradução para o português. Mas, como eu disse, vou tentar trazer para o site as informações mais relevantes dessas obras (e de algumas outras), priorizando as conclusões que se apoiam em estudos mais consolidados.

– Obras em inglês (coloquei o link para versão Kindle, mais barata do que livro físico):

1) How We Learn: Why Brains Learn Better Than Any Machine . . . for Now – Stanislas Dehaene (por enquanto, o melhor livro que li sobre aprendizagem): https://amzn.to/31PRxoV

2) Ultralearning: Accelerate Your Career, Master Hard Skills and Outsmart the Competition – Scott H. Young (esse também é excelente para grandes projetos, como é o caso dos concursos): https://amzn.to/3gT0jJm

3) The ABCs of How We Learn: 26 Scientifically Proven Approaches, How They Work, and When to Use Them – Daniel L. Schwartz, Jessica M. Tsang e Kristen P. Blair  (livro simples, direto e que traz diversas abordagens sobre aprendizagem): https://amzn.to/3gPi0JH

4) Unlimited Memory: How to Use Advanced Learning Strategies to Learn Faster, Remember More and be More Productive (esse é mais curtinho e simples, mas importante para mostrar que não há limites para o que seu cérebro é capaz de fazer) : https://amzn.to/2XXu2t4

– Obras em português, em versão impressa (estes trazem um conteúdo mais básico, mas também muito útil):

5) Aprendendo a Aprender. Como Ter Sucesso em Matemática, Ciências e Qualquer Outra Matéria – Barbara Oakley: https://amzn.to/2XZTspV

6) Como Aprendemos – Benedict Carey: https://amzn.to/3iEheQ6

Vamos juntos!

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