No último post eu falei sobre memória e mencionei a importância de lembrar.
Afirmei que, para não esquecer, devemos praticar a rememoração (o ato de lembrar) e que rememorar fortalece as conexões neurais, facilitando lembrar novamente da informação no futuro, e assim, sucessivamente.
Quando nos esforçamos para lembrar de algo e quanto mais vezes fazemos isso, mais fácil se torna lembrar novamente.
E isso é essencial, pois o acesso a uma informação, mesmo quando devidamente codificada e gravada na memória de longo prazo, tende a se tornar cada vez mais difícil com o tempo.
Vale uma reflexão séria antes de estudar algum conteúdo de que você pretenda se lembrar depois:
Se você não estiver disposto a praticar a rememoração de um conteúdo, deve avaliar com cuidado se realmente é o caso de empregar seu tempo estudando-o.
Deve avaliar bem, porque seu tempo é precioso. E talvez não seja interessante utilizá-lo para aprender algo de que não irá se lembrar depois, ao menos em grande medida.
Talvez seja melhor rememorar algo que tenha estudado recentemente antes que se torne impossível lembrar.
Muitos usam o termo revisão e a palavra utilizada não importa muito. Importante é ter consciência que apenas rever não equivale rememorar.
A maneira que uma revisão é feita não deve ser negligenciada.
Penso que há basicamente duas formas de fazer uma revisão: por meio de rememoração ativa ou por meio de prática de reconhecimento.
A rememoração ativa, como já mencionei, leva à memorização do conteúdo de forma mais completa, pois facilita a recuperação da informação em momento posterior.
Na revisão por meio da rememoração ativa, você vai se esforçar para lembrar de tudo o que sabe sobre um assunto antes de conferir seu material. A única pista vai ser um enunciado ou palavra-chave. Você se esforça e somente depois avalia como se saiu, revisando o que for necessário. É possível apenas pensar a resposta, escrevê-la ou dizê-la em voz alta. O ideal é utilizar o formato que seu concurso utiliza.
Já a prática de reconhecimento leva à fluência em determinado material. Por esse método não é tão fácil se lembrar do conteúdo sem informações mais detalhadas, pois você não está praticando o lembrar, mas o reconhecer.
Na revisão por reconhecimento, você vai apenas rever, reler seu material, leis ou jurisprudência. Você não vai estar rememorando, mas vai estar se familiarizando cada vez mais com aquele conteúdo, vai estar adquirindo fluência.
Se você se limita a reler, vai estar apenas reconhecendo as informações, não vai estar lembrando ativamente.
Ao rever você está sendo lembrado. Ao rememorar você está se lembrando ativamente.
Quem revisa apenas por reconhecimento acaba adquirindo o que alguns pesquisadores chamam de ilusão de fluência: a familiaridade com um conteúdo não significa que você será capaz de se lembrar dele ou de reproduzi-lo em momento posterior.
E é por isso que muitos reclamam que estudam, estudam e depois esquecem. E muitas vezes é o que ocorre mesmo. Mas não porque não sejam inteligentes ou algo do tipo, mas porque não sabem como a memória funciona.
As informações que memorizamos estão armazenado em tecido vivo, o que é algo fantástico. O cérebro é dotado de plasticidade e está em constante mudança. Como já falei em outro post, somos criaturas eficientes e direcionamos nossa energia para aprimorar o que é importante, para o que fazemos com frequência.
Tudo que fazemos com frequência tende a se tornar cada vez mais fácil de repetir, com menor custo de energia e esforço. Com a memória ocorre o mesmo.
Todos já viram o que uma pessoa treinada é capaz de fazer: coisas incríveis. A internet está cheia de provas disso.
E, para mostrar para o cérebro o que é importante lembrar, nem a melhor das intenções é suficiente.
O uso é a melhor ferramenta para mostrar ao cérebro que uma informação é importante, tornando fácil lembrar-se dela novamente.
Se o cérebro tem que acessar periodicamente certas informações de forma ativa, trabalhosa no início, ele vai dar um jeito de tornar isso mais fácil, mais eficiente. E isso já está demonstrado cientificamente: ele produz mais neurônios, os neurônios fortalecem sinapses, lançam mais dendritos, fazem mais conexões, melhoram a condução dos sinais, entre outros pequenos milagres.
O cérebro é um órgão vivo, dotado de plasticidade, e está em constante mudança. E seu potencial fantástico está à nossa disposição.
Por isso penso ser tão importante conhecer minimamente como ele funciona.
Alguns podem pensar que tudo que eu disse já é batido e que em qualquer busca é possível encontrar essas informações. E ainda bem que é assim, pois o que estou apresentando já é consolidado na neurociência e eu sou apenas um curioso, tentando reunir o máximo de informações úteis e apresentar de forma simplificada e direcionada aos concursos.
Mas lembre-se que em cada descoberta, em cada estratégia, é possível ir um pouco mais longe, ir além. É o que vou tentar fazer agora.
Você já deve ter percebido que para praticar rememoração ativa será necessário mais tempo e mais energia. É isso mesmo, não há milagre.
Já a revisão por reconhecimento não é tão dispendiosa, bastando uma releitura atenta e alguma repetição, mas não é tão eficiente para a rememoração.
Então posso concluir que somente devo revisar fazendo rememoração ativa? Bem, eu não quero concluir nada por você, mas gostaria de aprofundar a reflexão.
Lembra que eu já mencionei que a preparação deve ser direcionada para o seu concurso e que normalmente a quantidade de conteúdo é muito grande?
Pois é. Pessoalmente, eu não tenho dúvidas de que é possível que você saiba todo, ou quase todo, o conteúdo do edital. O potencial do nosso cérebro é imenso se soubermos utilizá-lo. Só que isso seria muito trabalhoso e tomaria muito, muito tempo, além de ser desnecessário para a aprovação.
Por isso acredito que toda preparação deve ser estratégica e que é possível mesclar os dois tipos de revisão, a depender de como os conteúdos são cobrados no seu concurso.
Vou dar um exemplo.
Questões objetivas, principalmente as que tratam do texto de leis ou jurisprudência sem maior aprofundamento, dependem, em grande medida, do reconhecimento da resposta correta.
As alternativas já trazem os textos originais ou modificados e cabe a você apenas reconhecer qual corresponde ou não ao texto da lei, súmula, tese ou julgado.
Consegue perceber que não é preciso conhecimento elaborado, mas apenas a capacidade de reconhecer visualmente se existe correspondência com o texto original? Guardadas as devidas proporções, é como um jogo de sete erros em que os originais não estão disponíveis fisicamente no momento da prova. Apenas mentalmente.
Pense sobre isso. Seu concurso tem muitas questões assim? Se sim, você pode perfeitamente se valer das revisões à moda clássica e não tão eficiente. Acredito ser melhor ler quatro, cinco vezes, uma lei, com ênfase nos artigos mais importantes, do que tentar praticar a rememoração de todo seu conteúdo.
Pontualmente, é útil a rememoração ativa, como em artigos mais cobrados, mais complexos, com prazos ou conteúdo contraintuitivo (aquele que causa estranhamento e que, se você não souber, vai chutar justamente o contrário). As questões de concursos passados são uma ótima maneira de fazer isso, mas não a única. E vou comentar sobre sistemas de repetição espaçada no próximo post.
Já para princípios fundamentais, conceitos centrais e temas importantes e atuais, que podem ser cobrados em questões objetivas, mas são, sobretudo, tema das dissertativas e orais, a rememoração ativa é fundamental e deve ser praticada sistematicamente para que você se lembre de conteúdo suficiente para dar a resposta mais completa possível.
E, por não fazerem essa distinção, vejo muitas pessoas dando conselhos que simplesmente não se aplicam a determinados concursos. Coisas como “basta ler a lei” ou “só com doutrina é possível a aprovação” não fazem nenhum sentido quando faladas de forma genérica. E discussões completamente sem sentido são travadas desnecessariamente.
Por isso defendo que cabe a cada um avaliar como funcionam os concursos visados e traçar uma estratégia específica e direcionada para eles.
Ao mesmo tempo, não podemos nos esquecer de que somos todos seres humanos e, apesar de nenhum de nós ser igual a outro, nosso cérebro tem um jeito de funcionar que é semelhante em todos nós.
Por isso acredito na utilidade das informações que apresento aqui, como, por exemplo, a insistência na importância de praticar, de rememorar ativamente através de questões que simulem da forma mais fidedigna possível o concurso visado.
Se você quer aprimorar sua preparação e acha que as informações que estou postando podem ser úteis, vá aplicando aos poucos e avaliando. O mais importante ainda é estudar com afinco e ter paciência, mas pequenas melhorias implementadas de forma constante podem ter um impacto muito positivo.
O que você pensa sobre isso tudo? Comente aqui, nas redes sociais ou me envie um e-mail.
O próximo post será sobre repetição espaçada.
Vamos juntos!
