Aprofundei o tema da rememoração no último post. Para facilitar a recuperação de uma informação é preciso rememorar ativamente. E quanto mais isso ocorrer, mais fácil se torna lembrar novamente no futuro.
Para não esquecer é necessária uma boa dose de repetição.
E aqui entra a ideia de repetição espaçada, ou efeito do espaçamento, uma das mais importantes para o funcionamento da memória.
Muitos conhecem os famosos experimentos de Hermann Ebbinghaus, psicólogo alemão que fez descobertas importantes sobre a memória. Dentre elas, se destaca a descoberta da curva do esquecimento, comprovando que a memória decai com o tempo de forma exponencial, como demonstra o gráfico que está mais abaixo.
Foi desse estudo que surgiram as revisões progressivas periodizadas como forma de evitar o esquecimento. Provavelmente já ouviu falar nas revisões com 1, 7, 15 e 30 dias.
Muitas pesquisas confirmaram as descobertas de Ebbinghaus e acrescentaram diversas nuances, dentre elas o fato de que o espaço entre as revisões não precisa ser fixo e depende do período pelo qual você deseja se recordar da informação. Além disso, restou comprovado que a força da memória se torna progressivamente maior com o aumento progressivo do espaçamento entre as repetições.
A repetição espaçada, além de fundamental para a memorização, é um mecanismo essencial para aprimorar o aprendizado, capaz de garantir eficiência no emprego do tempo disponível. E tempo é nosso maior recurso.
Suponhamos que você queira estudar determinado tema. As pesquisas demonstram que é muito mais eficiente estudá-lo em quatro momentos distintos e cada vez mais distantes no tempo, por exemplo, por 30 minutos cada, do que passar 4 horas seguidas estudando.
É isso mesmo: estudar 2 horas de forma espaçada é mais eficiente para o aprendizado que estudar 4 horas seguidas. Imagine essa diferença no longo prazo.
Um gráfico pode explicitar melhor:

A linha mais escura, sem degraus, mostra o estudo concentrado em um só dia, sem revisão. A força da memória é inicialmente mais forte, mas decai rapidamente. Ela demonstra a curva do esquecimento que mencionei anteriormente. E é por isso que realmente não lembramos quando não revisamos. E muitas vezes é por isso que erramos a mesma questão duas, três ou até quatro vezes.
As linhas mais claras mostram repetições em intervalos regulares, que aumentam a força da memória, mas de forma menos eficiente que as revisões com intervalos progressivamente maiores, como mostram as linhas com degraus mais espaçados e que atingem a maior força de memória.
Como temos um oceano de conteúdo para estudar, controlar o período dessas revisões pode realmente se tornar um desafio. E é aqui que podemos contar com os sistemas de repetição espaçada.
Sistemas de repetição espaçada são ferramentas criadas para fazer o controle das revisões por nós. O melhor que já testei, com a finalidade de preparação para concurso, é o Anki (https://apps.ankiweb.net). Mas existem vários outros, basta pesquisar.
O Anki uma ferramenta incrível na qual você cria flashcards e ele cuida do espaçamento das revisões. É gratuita para computadores e dispositivos Android. A única versão paga é a de iPhone/iPad, mas existe uma versão web mais simples que pode ser utilizada em qualquer plataforma.
Quase tudo no Anki é personalizável e, apesar não ter utilizado muito esses recursos, sei que eles permitem tornar o aprendizado ainda mais eficiente e individualizado.
Basicamente, você cria um ou mais baralhos e, dentro deles, vai criando cards com uma pergunta na frente a resposta no verso. Eu costumo fazer um baralho para um determinado grupo de disciplinas, de forma semelhante a alguns concursos. Mas cada um decide o que funciona melhor para si: um só baralho ou dividir por disciplina, por grupo, por tema, por concurso, criar um baralho de erros.
A ideia aqui não é fazer tutorial e acho que talvez nem seja necessário, pois é bem intuitivo. A melhor forma de conhecer é testar por um período.
Eu não conheço ferramenta melhor do que o Anki para aprender e nunca mais esquecer qualquer tipo de informação, por mais arbitrária que seja.
É importante que a maneira como você elabora a pergunta seja semelhante à forma utilizada no seu concurso. Ou, se preferir, não forneça muitas pistas na pergunta, caso queira um aprendizado mais completo.
Você pode, por exemplo, usar texto de lei/jurisprudência e excluir informações importantes, como palavras-chave e prazos, para completar na resposta. Ou você pode também fazer a pergunta básica: “O que significa tal conceito?” E caprichar na resposta. Cabe a você identificar que tipo de pergunta é mais relevante para cada tema de seu concurso.
E, quando for revisar, você deve tentar se lembrar de todo o conteúdo, com esforço e resistindo à vontade de olhar a resposta antes disso. E é só isso.
O prazo para as revisões ele controla pra você. Basta entrar uma vez por dia ou conferir se há notificações. Com o tempo, as revisões vão ficando muito espaçadas e você passa meses sem precisar revisar um determinado card. Contudo, se você errar a resposta as repetições voltam a ser mais frequentes. O algoritmo é muito eficiente, mas se não gostar, você pode personalizar os prazos.
O Anki também possui um importante recurso no qual você, depois de conferir a resposta, decide qual foi a dificuldade em rememorar, escolhendo se foi difícil, normal ou fácil se lembrar do conteúdo da resposta, o que vai regular o tempo da próxima revisão.
Se ficar fácil, ele joga a revisão mais para o futuro, com o objetivo de que você precise se esforçar para lembrar, buscando um nível de dificuldade desejável, outro conceito que irei trabalhar posteriormente, mas que também é importante para a eficiência no aprendizado. Se ficar difícil, ele aproxima a revisão um pouco, fazendo ajustes que são importantes para a fixação do conteúdo.
Como indiquei acima, existem várias formas de utilizar. Você pode colocar todos os temas importantes de seu concurso ou somente aqueles que você constata ter mais dificuldade. Eu costumo utilizar em conjunto com questões. Se eu identifico um tema que errei mais de uma vez, crio um flashcard para evitar o terceiro erro.
No celular, gosto de colocar o app ao lado de outros que não são tão úteis para o estudo, pois sempre vejo que existem cards para rever antes de checar outras coisas.
Anki é uma ferramenta poderosa, mas é “apenas” uma forma de fazer rememoração ativa progressivamente espaçada no tempo. Você pode usar planilhas ou anotar manualmente se preferir. O importante é não abandonar essa técnica.
Repetição espaçada é uma estratégia que não pode ser desprezada, pois seus benefícios estão robustamente demonstrados.
E a repetição espaçada não se limita a temas isolados ou na fixação de um prazo para cada revisão. É um modelo que pode ser aplicado ao próprio edital como um todo, no sentido de tentar passar pelos temas principais, mesmo que de forma não tão aprofundada, e retornar a eles em novos ciclos, ao invés de empregar vários meses, ou até anos, para supostamente “fechar o edital”.
Cabe a cada um entender como essa técnica funciona e, caso queria aprimorar a preparação, identificar a melhor forma de aplicá-la.
Repetição espaçada não tem segredo, mas seus efeitos são comprovadamente eficientes. São fantásticos.
Espero que esteja gostando das postagens. Se tiver alguma crítica, dúvida ou sugestão, entre em contato. Se acha que pode ser útil para mais alguém, divulgue. Obrigado.
Quer sugerir algum tema ou tem alguma dúvida em relação à preparação? Entre em contato pelas redes sociais ou por e-mail. Farei o possível para ajudar, fornecendo as bases para que você decida o que é melhor para a sua preparação.
Vamos juntos!
