Post 12: Prática deliberada

Meus últimos posts trataram de temas que são essenciais para o aprendizado e, por consequência, para a preparação visando concursos públicos.

Fazer questões, conhecer o básico sobre o funcionamento da memória e compreender a importância da rememoração ativa e da repetição espaçada são alguns dos fundamentos da preparação.

São muito importantes para quem está começando e também para quem já está na estrada há algum tempo, pois muitas vezes nos esquecemos do básico. E o básico faz muita diferença.

Mas dessa vez o post será sobre um tema que, por muitos, é considerado avançado. Tenho reservas quanto a esse tipo de afirmação, pois acredito que podemos nos beneficiar de todo o tipo de conhecimento se tivermos bom senso. O mais difícil é ter bom senso, podem argumentar. Eu concordo, mas isso não é razão para não aprender mais e tentar evoluir.

Vou tratar da prática deliberada sem rigor acadêmico. Não tenho a pretensão de trabalhá-lo dessa forma. Apenas quero transmitir alguns aspectos que podem ser úteis para alguns.

Prática deliberada é uma forma de preparação realizada com foco elevado, de forma sistemática, mediante obtenção de feedback rápido e preciso, com o objetivo claro e sempre presente de desenvolver habilidades e aprimorar a performance.

Todos nós estudamos, revisamos e resolvemos questões. Mas existem várias formas de fazer as mesmas coisas. A prática deliberada é aquela mais otimizada para o aprimoramento do desempenho.

Ela é o oposto do estudar por estudar ou fazer por fazer, sem atenção e sem fixar nada ou quase nada. Mas é óbvio que existe muita coisa entre esses dois extremos.

Prática deliberada é a maneira ideal para superar dificuldades e obter os máximos resultados, aumentando a eficiência da preparação e, principalmente, desempenho nas provas.

Não deixa de ser um conceito muito impactante e atraente. Mas será que a teoria funciona na prática?

Algumas perguntas: parece difícil identificar o que concretamente vai otimizar da melhor forma a sua performance? Parece difícil implementar esse método na prática? Supondo que realmente seja difícil, seria isso motivo para não se preocupar com essas questões? Cabe a você responder. Eu tenho minhas respostas e elas são bem claras.

É importante ter em mente que os concursos selecionam, em grande medida, os que mais se dedicam à preparação. E esse “mais” não significa número de horas de preparação, mas emprego de esforço que se concretize em maior performance nas provas, que é o meio de avaliação da preparação. 

Você realmente acha que existe uma fila imaginária de candidatos ordenada por número de horas de estudo e que vai andando a cada aprovação? Acredito que não, mas tem muita gente que pensa assim, como já vi algumas vezes. Claro que muitas horas são necessárias, mas não se resume a isso.

Na verdade, os concursos selecionam, em grande medida, os que melhor se dedicam à preparação.

Muitos questionam os concursos por realizarem essa separação. Mas é para isso que eles servem, para selecionar poucos entre muitos candidatos. Hoje temos a internet, com um volume de conhecimento incrível disponível de forma gratuita, o que ajuda a diminuir desigualdades (esse é um dos motivos para que o acesso a ela seja universalizado). Há muitas informações também sobre como aprimorar a preparação.

Os concursos precisam evoluir, sem dúvidas. Há muito espaço para melhorar e um dia irei escrever tudo que penso sobre concursos. Mas esse dia não é hoje.

Retomando, prática deliberada é um tema complexo e algo impreciso. Muitas vezes parece mais um conceito do que uma técnica, mas isso não é desculpa para deixar de identificar alguns elementos importantes relacionados à preparação para concursos:

  1. A prática deliberada envolve o propósito claro de melhorar a performance nas provas. Assim, pressupõe o conhecimento de como elas funcionam e de qual seu nível atual de desempenho. Ou seja, você deve conhecer seus concursos, suas provas, e saber como está se saindo atualmente. Como fazer isso? Algumas sugestões: 
    1. Fazer concursos, questões e provas simuladas, avaliando o desempenho em seguida.
    2. Fazer levantamentos sobre a banca, temas de interesse dela e da carreira.
    3. Analisar os dados de desempenho e os levantamentos realizados para começar a identificar o que é mais importante para obter melhores resultados.

2) Em seguida, você deve atacar esses temas e desenvolver essas habilidades importantes, estudando, revisando e, principalmente, praticando de forma extremamente focada, com rigor. Como fazer isso? Algumas sugestões: 

  1. Ter forte consciência da importância de seu objetivo para você mesmo (e para outros também, se for o caso).
  2. Sentir / criar a necessidade de atenção contínua, valendo-se da dificuldade do próprio conteúdo ou da necessidade de concluí-lo logo (seja cumprindo um cronograma ou considerando o volume do edital).
  3. Aprimorar sua capacidade de manter o foco, aumentando gradativamente o tempo de atenção intensa, eliminando as distrações, meditando, alternando prática de exercícios físicos, boa alimentação, lazer e sono suficiente.

3) Ao praticar, deve obter feedback rápido e de qualidade. Identificar os elementos e motivos dos erros, quais habilidades e conhecimentos necessários e quais os pontos a melhorar, mesmo nos acertos, buscando um nível (um pouco) superior ao necessário para a aprovação. Como fazer isso? Algumas sugestões:

  1. Aproveitar o feedback de sites de questões objetivas. Existem comentários de qualidade, mas é preciso bastante bom senso. Em questões simples é mais fácil, mas nas outras é preciso estar atento. Para provas subjetivas, analisar espelhos das bancas.
  2. Utilizar bons livros para temas mais profundos e questões mais complexas. Além disso, se valer de artigos para assuntos pontuais que precisam ser aprofundados.
  3. Criar sistemas para avaliar o aprendizado e obter esse feedback instantâneo, como o Anki que mencionei no post anterior, cuja qualidade das respostas nos flashcards também deve ser aprimorada com o tempo.
  4. Desenvolver sua habilidade de avaliar suas respostas, principalmente na preparação para fases discursivas e orais. Deixar de culpar a banca pelos seus resultados. Fazer parceira com outro(s) candidato(s) para isso.
  5. Ter acompanhamento personalizado ou fazer um curso, desde que forneçam feedback específico e de qualidade, o que pode não ser fácil.

Prática deliberada é uma técnica que não é tão fácil de implementar e sustentar e talvez seja inviável utilizá-la por períodos muito longos. Ela demanda muita energia, mas é muito eficiente para evoluir, principalmente naqueles momentos em que você se sente estacionado, em que a média parece não subir, ou simplesmente quando você queira dar um pequeno salto no seu desempenho.

A luta para evoluir e conquistar a aprovação é constante.

Em minha humilde opinião, essa luta para evoluir não acaba com a aprovação. 

A luta interior contra a ignorância e contra a mediocridade é para toda a vida.

Vamos juntos!?

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