Post 15: Engajamento ativo

Continuando a série de postagens sobre os pilares do aprendizado (atenção, engajamento ativo, feedback de erro e consolidação), na lição de Stanislas Dehaene, baseado no livro How We Learn: Why Brains Learn Better Than Any Machine … for Now (https://amzn.to/31PRxoV).

Hoje comentarei um pouco sobre engajamento ativo.

Dahene inicia sua exposição afirmando que “um organismo passivo aprende muito pouco ou nada”. Nós raramente aprendemos acumulando informações sensoriais numa maneira passiva.

O aprendizado eficiente decorre de engajamento, exploração, geração de hipóteses e teste dessas hipóteses no mundo real.

O autor diz que a motivação é essencial, no sentido de que para aprender bem é essencial ter um objetivo claro e estar comprometido a alcançá-lo. Ele não aprofunda muito em que sentido motivação é essencial, mas acredito que seja em ter o objetivo claro de aprender o conteúdo, aplicar em determinadas situações e se entregar inteiramente a esse objetivo.

O cérebro somente aprende bem se estiver atento, focado e ativo em gerar modelos mentais. Para apreender novos conceitos, é essencial estar constantemente reformulando-os com suas próprias palavras ou pensamentos. É preciso trabalhar o conteúdo mentalmente. E isso é engajamento ativo.

O processamento profundo gera mais aprendizado. E, para auxiliar nesse processamento mais profundo, condições de aprendizado mais rígidas costumam ser eficientes, na medida em que é necessário maior esforço cognitivo.

Muitas das pesquisas e descobertas da neurociência se baseiam em imagens da atividade cerebral. E esses escaneamentos demonstram que uma imagem (ou afirmação) entra em áreas sensoriais e cria apenas uma onda modesta de atividade no córtex pré-frontal.

Porém, receber essa mesma informação com atenção, concentração, profundidade de processamento e alerta consciente transformam essa pequena onda num tsunami neuronal que invade o córtex pré-frontal e maximiza a memorização subsequente.

É muito interessante, pois Dahene afirma que não existe um método milagroso. Apesar disso, existem várias abordagens que auxiliam os estudantes a pensarem por si mesmos. Ele indica que todas as soluções que fazem os estudantes saírem do conforto da passividade são eficientes.

Achei muito interessante essa colocação. Vou fazer alguns comentários pessoais mais à frente.

O autor afirma que sair da passividade não significa descobrir tudo por si mesmo. Bons professores ou bons materiais são muito importantes. Um ambiente de aprendizado estruturado facilita o progresso.

Menciona alguns mitos em relação ao aprendizado, dentre eles o mito dos estilos de aprendizado, o que não é novidade, pois muitos outros autores falam sobre ele.

Mesmo com inúmeras pesquisas sobre o tema, ninguém conseguiu demonstrar que determinada pessoa aprende mais facilmente por meio de um estilo, seja ele visual, auditivo ou sinestésico. Algumas estratégias funcionam melhor que outras, mas funcionam para todos nós, independentemente do meio pelo qual é provido.

A meu ver, isso não quer dizer que cada um não possa escolher o estilo que mais goste. Se você prefere um estilo e consegue estudar por mais tempo por ele, isso é relevante. Mas é apenas uma questão de preferência pessoal e não porque você possua algum tipo de propensão a isso.

Penso ser importante combater esse mito dos estilos de aprendizagem. E isso porque, muitas vezes, não podemos nos limitar a um único tipo de material (só escrito ou só audiovisual) e quem acredita, erroneamente, que aprende melhor em um formato já começa mal o estudo em formato diverso, com a convicção que não se sairá tão bem.

Falando sobre crianças, Dahene afirma que não existem diferenças em estilos de aprendizado, mas existem diferenças na velocidade de aprendizado e, nesse ponto, intervenções específicas são muito importantes. 

E ele faz novamente um alerta: o maquinário básico é o mesmo para todas as pessoas. Nosso cérebro aprende de forma mais eficiente com atenção focada ao invés de fazendo duas atividades ao mesmo tempo; com engajamento ativo ao invés de aulas passivas; com correções detalhadas de erros ao invés de falsos elogios; e ensinamentos explícitos ao invés de construtivismo ou aprendizado por descoberta.

Vou retomar aquela frase anterior sobre a inexistência de métodos milagroso, somar a essa sobre as características inerentes ao nosso cérebro e fazer um comentário.

Eu criei redes sociais para tentar divulgar esse site. E eu não tinha redes sociais até então por questões diversas, mas principalmente por questões de tempo.

E comecei a seguir muitas pessoas e perfis que comentam sobre estudo. E tem muita gente boa, que entende do tema mesmo sem ter leituras específicas sobre neurociência e aprendizado.

Mas também vi muita arrogância. De um lado, pessoas vendendo métodos milagrosos, o que comprovadamente não existe, como colocado acima. De outro lado, pessoas que, talvez como reação a esse comércio exacerbado de soluções milagrosas, se colocam de forma completamente cética, achando que basta abrir um livro e ficar horas lendo que vai aprender tudo, como se a ciência não pudesse ensinar absolutamente nada sobre o funcionamento do cérebro.

Todo muito vai ao médico quando tem algum problema, consulta diversos profissionais da área da saúde para auxiliar com alimentação, exercícios, estética, problemas de saúde mental. E é assim mesmo, pois esses profissionais possuem conhecimentos específicos sobre o funcionamento de nosso corpo.

E eu fico imaginando porque o cérebro, esse órgão tão fantástico, e essa função essencial que é aprender, ficam relegados a achismos. Por quê!? Pobre cérebro…

Pode ser que as pessoas duvidem da origem, no sentido que apenas um neurocientista possa ensinar sobre o cérebro. Nesse ponto eu concordo que a origem do conhecimento deve ter base científica. Mas pessoas podem reproduzir esse conhecimento e divulgar as descobertas consolidadas, aplicando em determinadas situações. É o que tento fazer aqui, da melhor forma que eu posso e com relevante custo de tempo e esforço. E espero que seja útil para mais alguém além de mim.

Retomando. Um dos fundamentos do engajamento ativo é a curiosidade, o desejo de aprender, a sede por conhecimento.

E a curiosidade é parte da estrutura de nosso cérebro. Ela é natural para nós. Segundo Dahene:

“Curiosidade é uma força propulsora que nos empurra à ação, de forma semelhante a fome, à sede, à necessidade de segurança e ao desejo de reproduzir.”

E é algo inerente a diversas outras espécies também, encorajando-as a explorar. Num ambiente instável, cheio de rivais e predadores, a curiosidade pode fazer a diferença entre vida e morte. E por isso a maioria dos animais regularmente monitora seu território, checando modificações e adquirindo conhecimento, o que é fundamental para sobrevivência.

E há evidências neurológicas que a força da curiosidade se assemelha à mesma força que motiva a busca por alimento e parceiros sexuais, pois ela aciona o circuito da dopamina (o mesmo que responde a estímulos como comida, drogas e sexo).

Aprender é profundamente recompensador do ponto de vista neurológico.

E memória e curiosidade estão profundamente ligadas, pois quanto mais curioso se está sobre algo, mais profundo é o processamento e maior a chance de se lembrar no futuro.

A curiosidade não gosta dos extremos. Ela não está presente quando já vimos a mesma coisas milhares de vezes e também quando o conteúdo é muito complexo ou surpreendente.

Outra descoberta que é muito relevante para quem se preparar para concursos:

“Nosso cérebro avalia a velocidade de aprendizado e a curiosidade é desligada se nosso cérebro detecta que não estamos progredindo rápido o suficiente”.

E precisamos ter muito cuidado com isso. Precisamos manter nossa curiosidade ativa. É importante controlar expectativas, ter força de vontade, objetivos de curto prazo mais modestos, estimular nossa curiosidade e muitas vezes voltar às lições básicas para manter a chama acesa.

Curiosidade é paixão. Paixão por aprender.

Vamos juntos manter essa chama acesa!

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